O futuro do mercado do boi também esteve no centro das discussões no Congresso Nacional da Carne (Conacarne 2025), realizado nesta sexta-feira (19/09). O Painel “Entre ciclos e incertezas: o futuro do mercado do boi”, reuniu dois grandes analistas do setor pecuário para discutir os fatores que influenciam preços, oferta, demanda e as perspectivas para os próximos anos.
Participaram do painel Alexandre Mendonça de Barros, especialista em mercado da MBAgro, e Rogério Goulart, editor e fundador da Carta Pecuária. A mediação foi conduzida pela jornalista Juliana Camargo, do Portal DBO.
Alexandre destacou que a pecuária brasileira vive um momento “único”, com forte inserção internacional: o país deve exportar cerca de 4 milhões de toneladas de carne bovina em 2025, representando quase um terço do comércio mundial. Segundo ele, a combinação de abate elevado de fêmeas no Brasil, Estados Unidos e China deve reduzir a oferta global a partir de 2026, o que tende a sustentar preços elevados. Ele lembrou ainda que fatores como o câmbio, a demanda chinesa e a transformação do milho em etanol, que amplia a oferta de grãos para nutrição animal, são variáveis centrais para entender a competitividade do setor.
Já Rogério Goulart trouxe a visão prática do pecuarista, reforçando o caráter cíclico da atividade. Segundo ele, a arroba do boi apresenta valorização média de 9% a 10% ao ano no longo prazo, mas com quedas pontuais que podem chegar a 20%, exigindo gestão cuidadosa de custos e estratégias para atravessar períodos de baixa. No caso da cria, Goulart destacou que o bezerro funciona como “gatilho do ciclo”, podendo sustentar alta por anos quando inicia um movimento de valorização, como o que está em curso desde 2023.
Ambos reforçaram que, apesar do alinhamento favorável no mercado internacional, a pecuária exige planejamento para aproveitar as fases de alta e resiliência para suportar os momentos de baixa, mantendo o equilíbrio entre produtividade, custo e qualidade da carne ofertada.
Os especialistas ressaltaram que, mesmo diante das incertezas, o Brasil mantém posição de protagonismo no mercado global de carne bovina. Para garantir a competitividade, defenderam a necessidade de conciliar estratégias de curto prazo com investimentos em eficiência produtiva e sustentabilidade.