O amor dele pela cafeicultura começou cedo, antes dos 16 anos, mas a paixão pela atividade veio há quatro anos, quando optou pela produção de cafés orgânicos. Esse é um breve resumo da história do produtor Lucas José de Melo, proprietário do Sítio Vale da Serra, em Campestre. Com área de 4,57 hectares, ele cultiva as variedades Acaiá, Mundo Novo e Catuaí Vermelho e, hoje, tem orgulho e confiança para passar a atividade para os seus sucessores.
Mas há cinco anos, não era esse orgulho todo que o conduzia, mesmo estando na atividade há 16 anos. Desanimado com os preços do café naquele período e, principalmente, preocupado com a quantidade de insumos necessários para a produção, a sua vontade era mesmo de desistir. Mas foi nesse período que conheceu a produção de cafés orgânicos, se apaixonou e optou pela transição do plantio convencional para o orgânico. “Há quatros anos, quando descobri esse caminho, tive certeza de que gosto muito do que faço”.
Lucas estava em busca de um mercado diferenciado para o seu café, pois já não se adaptava ao sistema do café convencional. Por isso, buscava técnicas para produzir um café especial quando conheceu o orgânico. Foi nesse período que conheceu o trabalho da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (COOPFAM) e participou do seu primeiro curso com o engenheiro agrônomo e florestal Sebastião Pinheiro.
Esse conhecimento inicial foi-se somando a outros, muitos deles através do Sistema Faemg Senar, que levou a sua lavoura a certificação de café orgânico e na safra desse ano, mesmo depois de enfrentar a geada de 2021, que acabou com um hectare da cultura, ele produziu 117 sacas conseguindo uma receita bruta de R$ 220.000,00. Atualmente a sua produção está em área de 3,5 hectares.
Sistema Faemg Senar
Integrante do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) Café + Forte há dois anos, Lucas destaca o quanto o programa o ajudou na parte gerencial, na gestão do negócio. As anotações lhe dão condições de fazer comparativo com outras lavouras e o manejo de forma preventiva. Com os resultados obtidos, o produtor conseguiu, neste ano, investir em um trator.
“Estou otimista e investindo na lavoura. Minha meta é produzir, no futuro, 50 sacas por hectare. Precisamos quebrar paradigmas que café orgânico produz pouco, pelo contrário, pois produz muito”.
Segundo o técnico, Rodrigo Oliveira Lima, o produtor é muito empenhado, se preocupa muito com o melhor manejo das lavouras. “Ele sempre busca novidades orgânicas para fazer na lavoura, é muito pontual com as práticas de manejo e vem melhorando a cada dia”.
Economia e Recursos
Para se ter uma área com produção orgânica, são várias técnicas diferenciadas empregadas, o que refletirá em produção e no controle de pragas e doenças. Para manter o solo úmido e vivo, o produtor usa técnicas já reconhecidas como o pó de rocha, o carvão, o quebra vento e os biofertilizantes - técnicas que associadas contribuem para manter o solo úmido e ajudam no enfrentamento da seca e evitam a irrigação. A técnica do uso do carvão, por exemplo, pode reter em até 10 vezes mais água no solo, segundo estudos já realizados por vários órgãos e destacados pelo produtor.
Outra prática é a adubação verde, utilizando a vegetação da área, que quando roçada volta para o pé de café, servindo como uma adubação orgânica. “O que fertiliza o solo são os microorganismos e uma série de bactérias e fungos que fazem uma simbiose. A planta devolve nutrientes para a planta, não estragando o solo e ajudando milhões de seres que vivem ali e que vão contribuir para o desenvolvimento da cultura”, ressalta o produtor.
As barreiras de vento, que ajudam na degradação pelo vento e geada, também são outra prática adotada pelo produtor. Em 2021 ele perdeu 1 hectare da cultura com a geada. Para isso, ele plantou uma área de macadâmia, que vai dar retorno esperado em aproximadamente quatro anos. Além da ajuda na cafeicultura, vai voltar em outra fonte de renda para a propriedade.
“Vou produzir macadâmia, que tem uma lucratividade interessante e vou ter a produção do café, que associado à macadâmia está levando a uma produção maior do que manter esta área apenas com café; tendo a diferenciação de equilíbrio na temperatura, conforme o período, com 2,5º a menos ou a mais”, avalia.
“A agropecuária brasileira e mineira está investindo em adaptação por meio da adoção de tecnologias, boas práticas e assistência técnica, modelo para todas as partes no processo de enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas. O Sistema Faemg Senar tem sido protagonista nesse processo desempenhando papel extremamente relevante de levar conhecimento aos produtores para permitir a produção de alimentos e energia e, ao mesmo tempo, reduzindo os impactos das mudanças climáticas”, destaca a gerente de sustentabilidade do Sistema Faemg Senar, Mariana Ramos.
Resultados
Nos últimos anos, após a mudança de condução na lavoura, ele observou mais umidade no solo, a terra mais fértil e destaca que com esses resultados, as adubações e correção do solo vão seguindo novo ritmo. Esse ano, por exemplo, não precisou aplicar calcário em nenhum talhão e o fósforo também está equilibrado. “Estamos trabalhando com vida, cada planta associada tem um perfume e uma coloração de flor para atrair inseto. Quanto mais diversidade, maior é a intensidade e a biodiversidade para trabalhar o solo”.
Ainda segundo o produtor, a lavoura apresenta menor incidência de doenças. “O que me levou para o orgânico foi o benefício maior com a saúde. Eu não tinha animo para ensinar o meu filho a fazer a pulverização. Hoje, trabalhamos com segurança alimentar e posso ensinar meu filho a seguir o mesmo caminho”, comemora.