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Práticas de bem-estar animal avançam nos currais do Norte de Minas

PECUÁRIA DE CORTE
ESCRITO POR RICARDO GUIMARÃES, DE MONTES CLAROS
15/03/2023 . SISTEMA FAEMG, SINDICATOS, SENAR, FAEMG

Cursos do Sistema Faemg Senar para atuação na bovinicultura têm ajudado a mudar a mentalidade dos produtores

 

Os cursos de doma/manejo racional ofertados pelo Sistema Faemg Senar seguem contribuindo para o avanço de uma nova metodologia de trabalho nas fazendas do Norte do estado: as práticas de bem-estar animal. Especialmente para a atuação com a bovinocultura, as novas práticas estão mudando a mentalidade dos produtores. Cinco turmas já foram formadas, entre 2022 e 2023, capacitando profissionais que já atuam na área e acadêmicos de cursos vinculados ao agro, como ocorreu recentemente em Janaúba, em parceria com o Sindicato dos Produtores Rurais local e a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

“Nunca é demais novos conhecimentos. Por mais que sei atuar com tudo um pouco na fazenda, com este curso aprendi a lidar melhor com os animais, fazer da maneira certa. Já vejo diferença, com resultados no meu dia a dia. Tudo que foi passado no curso coloquei em prática. Evitando o estresse do gado, o manejo melhorou. São mudanças necessárias para atualização de rotinas, apesar de muitos já terem desde o berço a lida com o agro”, opina a estudante de zootecnia, Jordânia Pereira da Silva, que já atua na área, gerenciando a fazenda da família, voltada para a bovinocultura de corte, com cerca de 400 animais.

A estudante fez parte da turma que formou 10 produtoras e acadêmicas para as novas e boas práticas de bem-estar animal, e que integram um núcleo de trabalho da Unimontes em Janaúba, a empresa júnior Unipec Jr. Consultoria Zootécnica. Os novos conceitos servirão de base para maior propagação das técnicas de manejo e evolução no trabalho em campo.

Aulas práticas mostraram como a doma pode ser aliada no dia a dia das fazendas.

“Hoje não se concebe mais a utilização dos animais sem ser de forma ética e respeitosa, seja para uso de pesquisas, entretenimento ou alimentação. Assim, a oportunização desse curso pelo Sistema Faemg Senar é muito importante para que o manejo racional chegue o mais rápido possível às propriedades rurais. Para os integrantes da Unipec Jr., sem dúvida, será um diferencial, pois eles serão multiplicadores desse aprendizado, se destacando por estarem sempre atentos às normativas e exigências do mercado do agro de forma sustentável e colaborativa”, pontua a professora Auriclécia Lopes de Oliveira Aiura, coordenadora da empresa júnior. 

Sala de aula

Ao longo do curso, várias técnicas são apresentadas e os alunos são colocados diante de situações que podem acontecer no dia a dia da fazenda. A ideia é que, a partir de agora, impere a calma, pouco uso de cavalos ou objetos que possam assustar o gado. A instrutora Pércia Rocha destaca a importância de as novas metodologias já serem trabalhadas desde a formação acadêmica, lembrando que a perspectiva é que o mercado de trabalho cobre cada vez mais desses futuros profissionais soluções produtivas vinculadas ao bem-estar animal.

“É muito gostoso quando pegamos um público de estudantes, como este, que se dedica muito ao curso. Hoje existe muita pressão de mercado para a qualidade de produtos produzidos relacionada à qualidade de vida desses animais antes de chegarem à fase de abate. Por isso é preciso fazer essa adequação na atividade. Como digo, proporcionar melhor qualidade de vida para aqueles que dão à vida para nos fazer viver”.

 

Instrutora do curso, Pércia Rocha, mostrou diversas técnicas de doma racional aos alunos.

 

A estudante Kelly Daiany Santos Lopes também se capacitou. Ela comenta que durante a rotina de estágio e trabalho é comum presenciar situações que o manejo dos animais é feito de forma mais agressiva, e que isso causa desgaste e perdas no trabalho. A estudante espera levar os novos conhecimentos para onde for. “Ter essa parte prática do curso é bom, pois assim podemos ver no campo os conceitos que aprendemos na faculdade. Aqui temos teoria e prática juntos. Cada vez mais fica claro que adotar este manejo mais cuidadoso dos animais influencia na produção, na rentabilidade do animal. Espero levar essas novas práticas quando me formar para o mercado de trabalho”, diz.

Resultados e boas perspectivas

E se tem capacitação constante, os resultados já começam a aparecer. O empresário Bernardo de Azevedo Bahia Mendes, que cedeu a fazenda para a realização deste último curso, é a prova que o investimento na nova metodologia traz bons resultados. Ele tem estudado bastante o tema do bem-estar animal e preparado sua propriedade para ser um modelo das práticas inovadoras. Vários profissionais da fazenda já foram capacitados pelo Sistema Faemg e seguem em constante treinamento para aprimoramento das técnicas.

“Além da questão do trato mais ‘humanizado’, de bem-estar no manejo, envolve também a segurança dos colaboradores. Antes era um trato mais rústico, que eu não gostava de ver. Quando assumi a fazenda fui buscar algo para mudar essa metodologia. Hoje os animais são infinitamente mais tranquilos, o gado conhece a gente. Costumo dizer que é outra propriedade, completamente diferente”, comenta.

A fazenda conta com 300 cabeças de gado Nelore. Ao longo dos últimos meses, Bernardo investiu em estrutura física, instalando espaços para melhor manejo dentro da metodologia do bem-estar animal, como curral antiestresse, que busca, em sua essência, imitar o comportamento natural dos animais, e um “berçário” para o primeiro contato do bovino com o profissional/vaqueiro. Os novos cuidados tiveram resultado positivo no índice da última inseminação artificial realizada na fazenda. “Financeiramente falando, eu tive 80% de inseminação IATF em dezembro. Esse número coroou o trabalho do manejo racional. Para a próxima estação de monta vamos introduzir 100% o trato ‘humanitário’. Com esses resultados, acredito que nos próximos anos toda a região vai passar a adotar essas novas metodologias de bem-estar animal”, finaliza o produtor.

Segundo Pércia Rocha, o diferencial para os resultados positivos está no alinhamento da estruturação da fazenda com a aplicação correta das técnicas de manejo racional. Para ela, a perspectiva é de cada vez mais o tema ganhar os currais da região. “Não adianta só ter o curral antiestresse, por exemplo, se não houver práticas de manejo adequadas. O caso do Bernardo é relevante, pois começamos com o curso a princípio fazendo novas práticas de manejo, adequações das instalações que ele já vinha investindo e, com isso, conseguimos pontuar várias melhorias para trabalhar de forma ainda mais eficiente. É um exemplo de como os produtores e profissionais da área têm valorizado o curso. Por mais que são pequenas práticas, o conjunto, a soma dessas práticas têm revelado grandes melhorias”, finaliza a instrutora Pércia Rocha.