Fazenda dos Tachos, em Varginha, ganha força ao apostar em sustentabilidade
Com 240 anos, a Fazenda dos Tachos, em Varginha, é exemplo de tradição e inovação na cafeicultura. Conduzida por Adelino Rezende, Maria José Rezende Bernardes (Zezinha) e o filho, Tiago Rezende Bernardes, a família apostou em práticas sustentáveis e transformou a lavoura por meio da agricultura regenerativa, renovando o legado no campo.
O destino da fazenda começou a mudar quando Zezinha, ainda muito jovem, decidiu dar continuidade ao trabalho com o café após a perda do pai e do irmão. Ela e o marido, Adelino, consolidaram a produção de cafés especiais há mais de 30 anos, tornando-se referência na região.
Em 2020, o filho do casal, Tiago, trouxe uma nova visão de futuro e a Fazenda dos Tachos deu mais um passo decisivo: incorporou oficialmente a agricultura regenerativa ao manejo da propriedade. As conquistas que resultaram desse processo se refletem em prêmios, reconhecimento nacional e na criação da marca própria, o Café dos Tachos, apreciado em todo o Brasil.
A seguir, Tiago compartilha como a agricultura regenerativa transformou a propriedade e a relação da família com o campo.
Como começou o trabalho com agricultura regenerativa na Fazenda dos Tachos?
Começamos a trabalhar com a agricultura regenerativa há quase quatro anos, mas, na prática, já faz mais de 15 anos que evitamos o uso de inseticidas foliares, preservando o ambiente natural da lavoura. Nós já buscávamos esse equilíbrio, e a agricultura regenerativa veio para dar nome e reforçar essa prática sustentável: manejo consciente, preservação de predadores naturais e uso de produtos biológicos específicos.
Como surgiu o seu interesse pela agricultura regenerativa?
Estudei em escola agrícola e, depois, trabalhando com insumos agrícolas, me interessei pela nutrição vegetal. Um professor me disse que a planta é como um ser vivo de cabeça para baixo. Isso ficou na minha cabeça. Na pandemia, voltei para a fazenda e mergulhei no conceito de agricultura regenerativa. Estudei bastante e, para fortalecer o movimento na região, realizamos o 1º Encontro de Agricultura Regenerativa do Sul de Minas. O evento reuniu mais de 200 pessoas e hoje é referência: está indo para a terceira edição.
Quais os benefícios observados na propriedade?
O primeiro é o maior cuidado com o meio ambiente e a busca real por sustentabilidade. Além disso, notamos resultados muito positivos, principalmente diante dos desafios climáticos dos últimos anos. Mesmo com a seca de 2024, nosso café manteve excelente qualidade. Também observamos maior formação de matéria orgânica, solos mais descompactados e vivos, frutos de maior calibre e cafés de excelente peneira. Tudo isso mostra que a agricultura regenerativa não só preserva o meio ambiente, mas também potencializa a produtividade e a qualidade da lavoura.
Qual a diferença entre o café de lavoura regenerativa e o convencional?
Um café que vem de uma lavoura com práticas regenerativas é muito mais sustentável. Ele é produzido em um solo que não foi agredido por excesso de químicos, em um ambiente equilibrado, preservando a biodiversidade e a vida do solo. Isso reflete na qualidade do grão, resultando em um produto mais limpo, saudável e com sabor mais puro e diferenciado.
Quais cuidados vocês adotam no pós-colheita?
Tratamos o café como um alimento muito especial, que merece respeito em cada detalhe. Após a colheita, deixamos o café descansando dentro dos caminhões por, no mínimo, 30 dias, ouvindo música. Já estudamos que a música contribui para reduzir o estresse do grão, ajudando a manter suas características naturais e realçando a qualidade final da bebida. Cada etapa é pensada para preservar o máximo de pureza e sabor, respeitando a importância do café na vida dos brasileiros.
Que conselho você dá para quem quer começar?
Primeiramente, abrir a cabeça para mudar. Depois, procurar o Sistema Faemg Senar, que é uma fonte inesgotável de aprendizado. Nos ajudou a enxergar a fazenda como empresa e a crescer com sustentabilidade. O cenário mundial pede sustentabilidade e o Brasil precisa acompanhar esse movimento. A agricultura regenerativa é o futuro, tanto para o meio ambiente, quanto para o produtor rural que quer garantir produtividade com responsabilidade.
