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Curso de laticínios em Estiva estimula empreendedores

FORMAÇÃO PROFISSIONAL RURAL
ESCRITO POR GISELE NISHIYAMA, DE LAVRAS
27/05/2022 . SISTEMA FAEMG, SINDICATOS, SENAR

O Sindicato dos Produtores Rurais de Pouso Alegre, em parceria com o Sistema FAEMG, realizou, entre 16 e 20 de maio, o curso de Derivados do Leite na cidade de Estiva, no Sul de Minas. O treinamento foi ministrado pela instrutora e especialista em queijos, Renata de Paoli, que, além de apresentar conteúdos teóricos sobre a composição do leite, testes e higienização, capacitou os alunos na produção de algumas variedades de queijos, iogurtes e doce de leite.

“O curso agrega ferramentas para produzir produtos lácteos de qualidade, empregando técnicas que promovem um aumento do rendimento e consequente incremento da lucratividade”, explicou Renata. Ela vai além: “o mais impactante são as trocas, o encorajamento, as conexões interpessoais e amizades que são feitas. Eu coleciono inúmeros casos de vidas que foram transformadas por meio de nossas capacitações. E isso aconteceu essa semana em Estiva. Foi muito especial e potente perceber que muitos da turma seguirão com o projeto de uma forma comercial. Somos um agente de transformação do campo, por meio da educação. O que o SENAR faz é desenvolver pessoas e regiões, por meio de suas capacitações. E isso é maravilhoso”.

Ao centro, a instrutora Renata de Paoli com a turma do curso

A mobilizadora do Sindicato de Pouso Alegre, Valdirene Lisboa, disse que ficou orgulhosa da turma e da instrutora. “Ser mobilizadora é muito gratificante. A Renata foi exemplo de profissionalismo. Ela sabe que dentro da turma há empreendedores que estão apostando neste ramo e se capacitando para dar seguimento a novos projetos”.

Da teoria à prática

Uma das participantes, a Cátia Coutinho Andrade, achou importante fazer o curso para expandir o negócio do pai, que é produtor de leite. Cátia, formada em Agroindústria e Administração, disse que, desde que formou “o sonho sempre foi produzir derivados do leite”. A empresa rural que ela tem com o marido José Fernandes se chama Serra da Carapuça.

“Em 2020 resolvemos tirar o projeto do papel e colocamos em prática, começando com doce de leite. O José é formado em Engenharia de Automação e me ajuda com os equipamentos e toda a parte de infraestrutura. Meu pai é produtor de leite e nos fornece o leite para a produção do doce. Após o curso do SENAR, tive a oportunidade de melhorar o doce de leite e aprender a produzir outros produtos. O curso foi muito enriquecedor para o meu crescimento”.

O participante Alexandre Rodrigues, mostrando o queijo trança feito durante o curso

Para Alexandre Antônio Rodrigues, o curso foi ‘nota 10’. “Eu trabalhava com lavoura de morango, mas sofri um acidente de carro e não fiquei bem da saúde para tocar a lavoura. Então, trabalhar com vacas de leite e fazer queijo, através do aprendizado do SENAR, são uma grande oportunidade. Fizemos eu e minha esposa, gostamos muito, a instrutora é muito boa e aprendemos bastante, pretendo fazer mais cursos”.

Mudança de rumos

A pecuarista Samara Monroe Coutinho sempre produziu leite e já havia feito o curso há 17 anos, mas só há três trabalha com queijos. “Estávamos desanimados com o ramo leiteiro e vendemos todo o rebanho, mas no dia seguinte da venda mesmo fui convidada a fazer o curso do SENAR, e vi então a possibilidade de uma reciclagem no que eu havia aprendido, relembrando dicas e procedimentos”, contou. Após três dias de curso, a produtora comprou um novo rebanho, maior que o anterior, e ela e o marido já planejam a construção de um espaço para fabricação dos laticínios, com um leque maior de produtos.

“O SENAR, que já havia me dado uma luz com o curso do passado, fez minha luz brilhar novamente com esse novo treinamento. Faço um destaque especial para a instrutora Renata, que se mostrou uma pessoa muito profissional, nos dando, assim, um exemplo de determinação e seriedade. Sem dúvidas, uma pessoa ímpar. Hoje só tenho a agradecer ao SENAR e à instrutora por terem sido minha alavanca sem ao menos perceberem”, elogiou Samara.

Cátia Andrade utilizando a técnica aprendida durante o curso

Queijos LR

A turma foi composta por alguns produtores da cidade, futuros empreendedores no ramo do leite e pessoas que buscavam aprender sobre o assunto, conhecer casos como o da Dona Rosa Andrade, responsável, junto a seu marido, por produzir os Queijos LR.

Dona Rosa aprendeu na década de 60 com a avó a fazer “queijos de tábua, que passavam a caixeta para deixar bem lisinho. Depois me casei com um pequeno pecuarista que, devido ao baixo valor pago pelo leite, decidiu não mais enviar o produto para o laticínio. Então me lembrei dos queijos da minha avó e decidimos fazer para vender”, contou. Em 2001, por exigência da prefeitura da cidade, ela fez a capacitação em Derivados do Leite do SENAR e tudo mudou: “aprendi novas técnicas, melhoramos nosso produto em vários aspectos e lá se vão anos fazendo queijos e criando nossos filhos com a ajuda da renda dos produtos. Nosso queijo já foi levado para vários estados como Rondônia, Pará, Rio de Janeiro e Paraná. Agora, 21 anos depois, resolvi refazer o curso, juntamente com a minha filha Renata, para poder renovar os meus conhecimentos e, quem sabe, começar a fabricar novos produtos”.

Samara Coutinho, mostrando o seu queijo trança

“Eu cresci vendo meus pais mexerem com leite e venderem queijos. Eles formaram três filhos na universidade com a ajuda dessa renda. Segui um caminho diferente e que me levou a morar em locais sem a possibilidade de explorar o meio rural. Mas, agora, 22 anos depois, tive a oportunidade de estar nesse curso maravilhoso acompanhando minha mãe e aprendendo a fazer o que eu apenas via pronto”, contou Renata Andrade, a filha.

“Tudo foi novo para mim e cada transformação do leite foi muito emocionante. É algo maravilhoso de se ver e se fazer! Durante o curso, eu olhava para todos os alunos, para o leite se transformando e pensava na importância do SENAR e na transformação que ele produz em milhares de vidas através da capacitação profissional e promoção social que ele oferece. Também quero destacar que, para mim, esse curso foi muito além do aprendizado técnico, foi um aprendizado de vida. Isso porque convivi com várias mulheres fortes, que nasceram e amam o meio rural, plantam e produzem o que vão comer. Aprendi muito com essas mulheres incríveis e empoderadas".

Dona Rosa Andrade no curso de Derivados do Leite