Direto do mercado de saúde para o de bio e nanotecnologia aplicada ao agronegócio, a startup Doroth aterrissou nas lavouras brasileiras com a proposta de reduzir custos e aumentar a assertividade no uso de insumos. Tudo por meio do monitoramento da população e contagem de 30 tipos de microrganismos presentes no solo e de interesse comercial para a agricultura, entre eles, vírus, fungos nematoides e bactérias.
Em 2021, o faturamento já deve chegar a R$ 2,2 milhões — boa parte vindos de uma solução para análise da microbiota batizada DOT-Solo, primeiro produto comercial da startup para o agronegócio. Além dele, um robô de análise genômica do solo e uma solução que mensura a presença de esporos da ferrugem asiática no ar (DOT-Ar) estão prestes a sair do forno e, mesmo em fase de testes, já têm gerado receita para a agtech.
No caso do DOT-Ar o interesse é de grandes empresas como Ambev e SLC Agrícola, além da própria Embrapa. Atualmente, as soluções da Doroth atendem mais de 26 mil hectares em 23 fazendas.
“A Doroth está trazendo para o agro uma tecnologia criada para a medicina personalizada. Esperamos, assim, oferecer mais respostas e insights que reduzam o custo e aumentem a produtividade para o agricultor”, afirma Camilla Amaral, dentista, co-fundadora e CEO da Doroth.
Em 2022, com os pilotos do seu robô de análises genômicas rodando, a expectativa é que a Doroth fature cerca de R$ 4 milhões. Em plena escalada do seu pipeline, a agtech se prepara ainda para a primeira rodada de investimentos de sua história, uma captação semente da ordem de R$ 1,7 milhão, para turbinar a área comercial e continuar desenvolvendo suas plataformas.
Na condição de health tech, a empresa captou R$ 1,2 milhão no mercado de 2018 a 2020, via Programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe-Fapesp) e investimento anjo do agente de inovação Sevna. A Doroth também participou de programas da Aceleradora 100+, além de programas da Ambev e da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA).
Focado nos inimigos invisíveis da safra, o DOT-Solo visa dar nome e sobrenome aos seres vivos que passeiam debaixo da terra, por meio de uma análise molecular de amostras de solo que atendem de produtores e consultorias a indústrias de defensivos agrícolas.
A análise do DOT-Solo gera mapas para aferição da presença dos microrganismos nas lavouras (Crédito: Doroth)
Por enquanto, a tecnologia está disponível para as culturas de soja, algodão, feijão e tabaco. Seu objetivo é prover uma descrição assertiva da microbiota, o que inclui os patógenos e os agentes benéficos à saúde da planta, como os fixadores de nutrientes, por exemplo.
Para ter acesso ao serviço, o produtor faz contato com a Doroth, consultorias ou empresas parceiras, e pode solicitar a coleta de solo profissional ou receber as orientações para ele mesmo coletar as amostras. Nos dois casos, as coletas são georreferenciadas.
Já em posse das amostras de solo, a Doroth roda testes em laboratório cruzando os dados da fazenda com o seu biobanco interno. Ao final, são gerados mapas de calor da propriedade a partir das médias de concentração dos microrganismos (por talhão), o que possibilita ao responsável técnico — seja o próprio agricultor ou a consultoria agrícola contratada — tomar decisões de manejo personalizadas e baseadas em evidências.
O DOT-Solo gera valor, por exemplo, ao identificar o efeito de diferentes defensivos sobre a microbiota da fazenda, ajudando a direcionar um manejo mais eficiente. “No começo, nossa hipótese era que conseguiríamos otimizar o manejo biológico. Hoje, vemos que a solução otimiza o manejo integrado como um todo”, afirma Camilla.
Ainda no ramo da análise de solo, a Doroth está trabalhando em uma nova tecnologia: um robô que faz análises genômicas e avalia até 482 reações moleculares simultâneas por meio de um método que substitui o processo manual de laboratório usando placas de Petri.
Em parceria com a empresa Opentrons, esse robô elimina falhas nas análises de solo e dá escala a um processo que dependia do fator humano para identificar, por exemplo, a eficácia de defensivos agrícolas no combate a diferentes cepas de microrganismos causadores de doenças.
Robô da Opentrons usado na análise dos efeitos de insumos sobre a saúde do solo (Crédito: Doroth)
A inovação monitora, após a aplicação de defensivos, o número de microrganismos sobreviventes e traça um raio-X talhão por talhão da saúde do solo. “Isso abre um horizonte para o controle de qualidade e eficiência de produtos químicos frente à vida microscópica, tanto para os patógenos quanto para os agentes benéficos”, afirma Rodrigo Gurdos, engenheiro de biotecnologia e Diretor de Comunicação da Doroth.
Ao lado de Camilla, Gurdos e, o também engenheiro de biotecnologia, Samuel Oliveira, formam o trio de sócios da Doroth. Gurdos conta que hoje Oliveira está na Boston University fazendo pós-graduação justamente em prol dessa tecnologia. A ideia é que ela seja capaz de detectar o nível de resistência de microrganismos a diferentes concentrações de produtos, diferentes moléculas e marcas de defensivos – o que pode impactar, e muito, o ritmo da pesquisa e desenvolvimento de novas moléculas por companhias químicas.
O Salvador da pátria, ou melhor, da lavoura
Em outra frente, a Doroth trabalha no lançamento de uma tecnologia de monitoramento da ferrugem asiática da soja, que desde que chegou ao Brasil, há 20 anos, já causou mais de R$ 150 bilhões aos produtores de soja.
DOT-Ar em teste em lavouras de soja para detectar a ferrugem asiática (Foto: Doroth)
Atualmente, o método de prevenção para evitar perdas de até 80% da produção pela ação do fungo, é a aplicação calendarizada dos insumos, prevista para acontecer a cada 20 dias ao longo da safra de variedades de ciclo médio, de 120 dias.
Em fase de testes a campo, o DOT-Ar que mudar essa realidade, emitindo um alerta para o produtor quando houver necessidade de entrar com a aplicação de fungicidas na lavoura. A tecnologia consiste de um equipamento que mede a concentração de esporos no ar por eletrostática e que é capaz de perceber a chegada de uma nuvem fúngica a 50 km de distância. Instalado em série, em diferentes propriedades, ele permite monitorar zonas produtivas inteiras. No campo, o DOT-Ar já reduziu em até 80% a aplicação de fungicidas na soja.