Programa encerrou atividades, mas produtores seguem colhendo bons frutos
Mesmo após o fim do ciclo de atendimentos do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Projeto Agronordeste, produtores das regiões de semiárido de Minas Gerais, no Norte do estado e Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, seguem conquistando bons resultados produtivos e ampliando seus negócios rurais. Voltado aos pequenos e médios produtores, especialmente das classes D e E, o projeto atua com estratégias produtivas, gestão do negócio e tecnologias adaptadas aos desafios de propriedades que atuam com baixa produtividade e sem manejo apropriado, e convivem com instabilidade hídrica.
“O Agronordeste veio com essa proposta de trabalhar nessas regiões que são mais carentes, como uma iniciativa para esse desenvolvimento no semiárido, trazendo perspectivas diferenciadas para esses produtores. Por meio de algumas tecnologias, eles conseguem ter maior facilidade de se entender naquele lugar e ter resiliência de saber trabalhar a seu favor, com o que está disponível”, avalia Nathalia Rabelo, gerente de Assistência Técnica e Gerencial do Sistema Faemg Senar.
O primeiro ciclo de atendimentos, que ocorreu entre os anos de 2019 e 2022, beneficiou mais de duas mil propriedades, contemplando mais de 90 municípios, envolvendo diretamente 70 técnicos de campo do Sistema Faemg Senar e capacitando produtores de oito diferentes cadeias produtivas.
Visão ampla
Armando Ferreira de Aquino, produtor de leite de Brasília de Minas, fez parte dessa primeira turma do Agronordeste. Na pequena propriedade da família, ele sempre viveu do que plantou, mas o leite era apenas para consumo próprio. Foram várias as tentativas de iniciar e manter um ciclo produtivo para comercialização regular em laticínios.
“Cheguei a entregar leite, mas nunca mantinha regularidade. A gente era cego, levando a produção sem muito critério, só para sobreviver. Hoje começamos a enxergar melhor, ter uma visão ampla do negócio. Com a chegada do ATeG me transformei em um pequeno empresário rural e voltei a produzir para entregar o leite ao laticínio. O pouco conhecimento que eu tinha da roça aliado com a técnica que o ATeG trouxe gerou maior desenvolvimento. Comecei a tomar gosto pela produção de leite ao ver que estava dando retorno”, relembra Armando Ferreira.
No início da assistência, a média de produção chegava a 25 litros de leite ao dia. Hoje, com o mesmo rebanho de nove vacas, são 140 litros de leite ao dia. Com a ajuda do técnico de campo, Armando melhorou o manejo dos animais e dinamizou a oferta de alimentos. Graças ao melhor preparo e adubação do solo para plantio de sementes, garantiu produção de silagem de qualidade. “A cobrança do técnico era pesada, mas importante para conseguir os resultados. Costumo dizer que antes do ATeG a gente andava de muletas. Hoje caminhamos com as próprias pernas”, enfatiza o produtor.
Ânimo e planejamento
Os bons resultados durante o ATeG e a sequência do crescimento produtivo após o ciclo de assistência fizeram com que Armando Ferreira conseguisse planejar o futuro da propriedade, que já envolve processo de sucessão familiar com o filho, João Victor, de 20 anos, que decidiu se fixar na propriedade para ajudar. É o jovem que acompanha a atuação de um técnico de campo particular, que o pai, agora, consegue contratar mensalmente para seguir orientando a produção.
“A evolução tem sido muito boa e isso graças ao ATeG. Os conhecimentos que adquiri sigo aplicando. Os medos do produtor da roça são a caneta, calculadora e caderno. Não sabia operar a gestão. Agora anoto tudo em dia, faço a pesagem e controle dos animais. Com isso consigo ver o que está sobrando e mantenho controle da fazenda, sei para onde vai. Estamos investindo e acreditando, com perspectivas de seguir crescendo”, pontua Armando Ferreira.
Para Nathalia Rabelo, deixar este legado de conhecimentos e abrir novas oportunidades são fatores determinantes para o sucesso do ATeG. “A nossa intenção é que o produtor permaneça no campo. A gente vê o que tem acontecido, com muitos produtores desistindo e desanimando. Quando entramos com a Assistência Técnica e Gerencial assertiva esperamos que esses produtores tenham mais ânimo, consigam ver melhor a realidade do que eles têm. E esse resultado não é só no aumento de renda, mas poder deixar conhecimento, esse preparo maior para entender o mercado, para conhecer o negócio e, com isso, os produtores terem mais facilidade em negociar, vender melhor o seu produto”, enfatiza a gerente de Assistência Técnica e Gerencial da Faemg.
Mais do que gestão e tecnologia
É fato que o aumento de renda é capaz de proporcionar a adoção de novas tecnologias, mas algo que está nas entrelinhas, e que também é muito importante, é a condição social do produtor rural, algo diretamente impactado. Quando indivíduos têm acesso a melhores condições de vida, como educação, saúde e lazer, eles se sentem valorizados e confiantes em suas habilidades.
A valorização social e individual resulta em uma autoestima que permite que as pessoas se sintam mais motivadas, realizadas, além de promover um senso de pertencimento à sociedade. E foi exatamente assim que o Programa Agronordeste impactou a vida de Claudiana Francisca da Silva, em Itaobim. “Antes, ela precisava de apoio de terceiros para sobreviver, tratar de um câncer na garganta e ainda cuidar da propriedade e dos filhos. Com o Agronordeste, ela teve condições de cuidar da saúde, pois tinha tranquilidade ao saber que a propriedade continuava sendo acompanhada e os filhos estavam sendo participativos. No final do atendimento, tivemos um aumento de 864,32% de renda. Hoje, ela não precisa mais pedir ajuda, já tem o seu próprio carro e clientela”, afirmou José Lucas Cordeiro, técnico de campo.
De acordo com o Supervisor do AgroNordeste em Araçuaí, Luiz Carlos Soares, o sucesso de Claudiana se deve a favores externos e a algo que foi estimulado. “De maneira geral, além de levar o conhecimento da assistência técnica e gestão, o projeto transmite a disciplina. O produtor aprende que precisa entregar o que precisa ser feito e não há desculpa para postergar”.
“A negligência de processos e a falta de disciplina no trabalho têm consequências significativas. A ausência de uma rotina estruturada e a tendência em procrastinar tarefas podem levar a atrasos, erros e perda de oportunidades. Além disso, a falta de disciplina pode afetar a qualidade do trabalho realizado, comprometendo a reputação profissional e as relações com clientes e colegas. Portanto, é essencial valorizar a disciplina como um elemento chave para o sucesso, pois ela proporciona organização, eficiência e resultados consistentes”, ressaltou.
Sucessão familiar
A ascensão de Claudiana não motivou apenas a produtora. Inspirada pelo novo momento da propriedade, a filha de Claudiana, Catiane Silva, de apenas 16 anos, abraçou a sucessão familiar e fortaleceu os seus laços com a terra. Com o apoio incondicional da mãe e a paixão pela vida no campo, a adolescente promete ser um exemplo de dedicação e perseverança para as gerações futuras.
“Criei um amor por horta quando a minha mãe adoeceu, pois tive a oportunidade de me aproximar do trabalho, quando ficamos eu e meus irmãos tomando conta de tudo. Antes, eu queria ser veterinária. Agora, já amo mexer com horta e quero continuar”, afirmou.
A adolescente já consegue identificar as potencialidades do negócio. “Todo mundo elogia os temperos e o jeito que a gente faz a venda”. Para ela, “se for contar das melhorias que ocorreram na propriedade desde que o AgroNordeste chegou, dá pra falar o dia inteiro”.
Com o AgroNordeste, a tradição se renovou e o amor pelo trabalho no campo foi transmitido de geração em geração, garantindo o desenvolvimento sustentável das propriedades rurais.
AgroNordeste II
O Projeto AgroNordeste II já está em andamento, com os atendimentos iniciados no fim de 2022. A expectativa é atender 1,5 mil propriedades, que, ao final, terão recebido um total de 36 mil visitas técnicas. Serão sete atividades contempladas: apicultura, avicultura, bovinocultura de corte e de leite, cafeicultura, fruticultura e olericultura.