O objetivo é capacitar a mão de obra e desenvolver gestores de área capazes de lidar com desafios diversos
Com foco na rotina de funcionamento de haras, levando a raça Mangalarga Marchador a novas meios de uso como em esportes e lazer, o Sistema Faemg Senar e o Sindicato dos Produtores Rurais de Sete Lagoas, em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Mangalarga Marchador (ABCCMM), deram início, na última semana, às ações conjuntas do Programa Formação por Competências em Equideocultura.
O termo de parceria foi firmado durante a abertura da 40ª Exposição Nacional do Cavalo Mangalarga Marchador, realizada no Parque da Gameleira em Belo Horizonte, em julho deste ano. O objetivo é capacitar a mão de obra, desenvolver gestores de área capazes de lidar com os desafios diários no manejo, alimentação e saúde animal, saúde, indicadores econômicos e financeiros.
A valorização das ações de turismo rural também está contemplada na parceria, enfatizando as tradicionais cavalgadas temáticas. “Queremos ampliar o uso dos nossos animais para além da pista e levá-los para todos que gostam de montar e praticar esportes. É necessário que a gente não elitize muito o animal”, comentou a presidente da ABCCMM, Cristiana Gutierrez.
Seleção dos candidatos
Cerca de 20 candidatos, entre profissionais do setor, criadores e trabalhadores rurais participaram dos testes de aptidão para ingressar no programa, no parque de Exposições de Sete Lagoas, atual sede do Sindicato Rural. Na programação dos avaliadores, ações práticas que revelam o grau de familiaridade com o animal, sob olhares atentos dos representantes do Sistema Faemg Senar e a ABCCMM, como o instrutor Octávio Álvares, o superintendente técnico Henrique Machado, o professor e jurado, Thiago Resende e o coordenador da secretaria dos Núcleos da Associação, Frederico Lanna. No total, 15 pessoas foram aprovadas para compor a primeira turma do Formação por Competências em Equideocultura.
A agente de desenvolvimento rural, Rejane Aparecida da Cunha, explica que não basta ser entusiasta, tem que estar disposto a ir além da ideia comum de montaria e desejar trabalhar com técnicas de produção, respeitando a legislação vigente e o bem-estar animal, monitorar os resultados, melhorando os processos com responsabilidade e comprometimento profissional para a geração de renda e fomentar o segmento. “Certamente, ao final, o mercado ganhará profissionais com competências técnicas específicas e com visão de melhoria nos processos de gestão e aprimoramento das diversas oportunidades de negócio desta cadeia produtiva”, completou.
Mercado x mão de obra
A equinocultura ocupa lugar de destaque no agronegócio mineiro, que possui o maior rebanho do país: cerca de 800 mil cabeças. No Brasil, considerando os muares e asininos, esse número ultrapassa 5 milhões. Do total, quase 50% estão envolvidas com atividades de lida com gado nas propriedades rurais, cerca de 16% é voltado para lazer e esporte e mais de 7% para criação comercial. A cadeia produtiva envolve ainda muitos insumos, serviços e recursos, criando mais de 640 mil empregos diretos e uma média de 200 mil oportunidades indiretas. O país tem atualmente o quarto maior rebanho de equídeos do mundo e movimenta quase R$ 9 bilhões por ano. Em relação ao Mangalarga Marchador, não é diferente: Minas Gerais, precursor da raça, é um dos estados referência com cerca de 300 mil animais.
O gerente de Formação Profissional Rural e Promoção Social do Sistema Faemg Senar, Wander Magalhães concorda que o mercado é promissor e apresenta altos investimentos e movimentações financeiras. Contudo, é preciso considerar que há um déficit em mão de obra qualificada, talvez, pelo fato de a imagem do setor ser distorcida e carregada de preconceitos já que, para muitos, a “indústria” do cavalo está relacionada ao interesse restrito de uma elite e distante da realidade do brasileiro médio, conforme estudos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA.
Nesse sentido, na visão do gerente, o programa é completo, com uma carga horária mais extensa para trabalhar cada fase da cadeia produtiva e suas diversas tarefas. A ideia ainda é aproximar as Associações do Sistema Faemg Senar. “Além da condição de melhoria na oferta de mão de obra qualificada, proporcionamos essa mudança de cultura e a valorização do grande potencial que existe em trabalhar nas propriedades rurais e nos haras. Empregabilidade forte para os nossos formandos e, ao mesmo tempo, novos negócios, o que impacta positivamente na arrecadação”, explicou.
Ao final do programa, a expectativa é realizar os ajustes necessários conforme observação dos instrutores, técnicos das associações e participantes, e passar a ofertar o programa, definitivamente, nas demais regiões de Minas e outros estados da Federação que se interessarem.
“Eu acredito muito nesse mercado, e é por ele que eu tenho buscado conhecimento. Quero agregar à vida dos meus colegas de sala, ter autoridade no assunto, desenvolver uma mentalidade mais à frente”, disse uma das alunas do curso, Ranyele Abreu. Ranyele é filha de produtor rural e seu maior sonho é ser referência como profissional na equideocultura.
Dicas do instrutor
Seja para os segmentos de criação, treinamento, esportes, lazer (por meio das cavalgadas temáticas) e trabalho (militar, terapêutico, lida do gado bovino), o médico veterinário e instrutor no programa, Rivaldo Nunes da Costa, aconselha conhecer procedimentos de primeiros socorros e técnicas básicas de execução de comandos e outras que permitem identificar como o animal se comporta em diferentes situações, mesmo que ele seja considerado manso. “Isso evita cerca de 90% dos problemas”, alertou. “Os animais têm regras próprias de convívio e estabelecem hierarquia. Com isso, quanto mais conhecimento na área melhor”.
Para quem deseja ingressar na criação, a dica é atenção redobrada aos cuidados essenciais com alimentação e zoonoses, conhecer a espécie, interagir com associações de criadores e outras entidades que apoiam o desenvolvimento do segmento, como o Sistema Faemg Senar e as secretarias de agricultura. No caso de investimentos, Rivaldo disse ainda que é fundamental conhecer o mercado, a região e ter claro o objetivo da criação evitando adquirir animais que não sejam aptos para tal atividade.