A integração entre meio ambiente e produção rural é a fórmula que Valmir Batista Santos vem aplicando há muitos anos em sua propriedade em São Pedro das Garças, distrito de Montes Claros, no Norte de Minas. Atuando com gado de corte, e ainda com um pequeno aproveitamento na bovinocultura de leite, nos últimos meses ele vem estudando e delimitando a potencialidade do empreendimento para a apicultura. O produtor conta com apoio do técnico de campo Gláucio Gurgel Spinola, do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), desenvolvido pelo Sistema Faemg Senar.
“Já tem 18 anos que tenho a propriedade. Quando comprei a ideia já era ter um terreno mais preservado, para manter o equilibro e reduzir o impacto durante o trabalho rural. A apicultura tem sido uma oportunidade para aproveitar a potencialidade da fazenda. Muitos aqui na região usam pasto apícola, como áreas de eucaliptos, ou o cerrado natural, que dão as floradas determinadas. No meu caso é mata seca em transição. Então, estamos fazendo experimentos para identificar as floradas da propriedade”, explica Valmir Batista.
Os primeiros passos já revelam uma grande riqueza natural. O produtor, que começou a produção apícola com somente três colmeias, conseguiu na primeira coleta, em 2022, cerca de 80 kg de mel. A expectativa é ampliar a produção após finalizar o trabalho de análises e testes na propriedade. O carro-chefe deverá ser o mel de aroeira, que tem sido bastante valorizado nos mercados internacionais após a maior comprovação das suas características e benefícios à saúde. Este tipo mel produzido no Norte de Minas tem, inclusive, o reconhecimento da Indicação Geográfica.
“Observamos um grande potencial para o mel de aroeira, devido ser uma região de mata seca. O produtor não tinha este total conhecimento do potencial para ser explorado no local para a apicultura. Ainda estamos no início, estudando o pasto apícola, corrigindo alguns pontos para ele avançar nessa nova atividade na fazenda. Mas existe uma grande simbiose da atividade apícola com a área de reserva dele, que vai fazer grande diferença”, explica Gláucio Gurgel Spinola.
Integrado
O modelo adotado na fazenda é motivo de orgulho para o produtor. São cerca de 250 hectares, dos quais 45% são para ações de preservação, entre mata nativa e secundária, levantada através do plantio de reflorestamento. “O objetivo é mostrar que é possível, e necessário, aliar produção rural e meio ambiente. Muitos acharam que não daria resultados, por olharem somente o financeiro instantâneo e não a herança para o futuro, para a coletividade”, pontua o produtor.
O resultado da iniciativa tem sido colhido dia a dia. A propriedade mantém ao longo do ano pastos ainda mais saudáveis, gerando ambiente de maior bem-estar animal, essencial para as atividades da bovinocultura de corte e leite; reduzindo o uso de inseticidas e herbicidas; mantendo o solo sem degradação e sem formação de voçorocas; além da descoberta do potencial para produção de mel.
Fauna e flora em equilíbrio
Segundo o técnico Gláucio Gurgel, o fato de o produtor ter abraçado essa nova forma de entender a produção rural tem feito grande diferença e será ponto positivo para os próximos anos. “O empresário já tinha essa tendência de propor um contexto de integrar a atividade rural ao meio ambiente. Agora estamos associando essa diversidade e preservação do local com a apicultura. Ele já é um exemplo para outros produtores também buscarem enxergar essas novas potencialidades e possiblidades nas respectivas propriedades. Nós, como apicultores, precisamos plantar árvores”, diz o técnico de campo.
Atualmente Valmir Batista tem 20 colmeias. A expectativa dele é chegar a 50 o quanto antes e fazer da atividade ainda mais representativa dentro da propriedade. Todas as caixas que são usadas para as colmeias foram fabricadas na própria fazenda, com madeiras reaproveitas de árvores que caíram naturalmente. “A proposta é tornar a fazenda um modelo de apicultura também. Na nossa atividade utilizo pouco inseticida e herbicida, por exemplo, o que poderia prejudicar a migração das abelhas e tem influência direta na produtividade. Sempre quis trabalhar a apicultura e o ATeG vem auxiliando a desbravar e definir o manejo certo para atuação na área”, finaliza Valmir.
Para os próximos meses o produtor já planeja a construção de uma casa de mel na fazenda, que também vai atender outros pequenos apicultores de comunidades vizinhas, ajudando a desenvolver a região como um todo para a produção de mel.
Mais retorno
Além das atividades rurais, Valmir Batista tem um convênio com o Ibama, que realiza a soltura de animais silvestres na propriedade. Por meio da Universidade Estadual de Montes Claros, são realizadas também pesquisas e laboratório de estudos dos acadêmicos. A propriedade ainda mantém preservadas nascentes que desaguam no Rio Verde Grande, sendo uma das últimas ainda vivas nos córregos que cortam a região. Com as iniciativas, Valmir faz parte de projetos de ecocrédito, recebendo em troca compensações tributárias municipais.